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Luto Perinatal

Luto Não Reconhecido: Quando a Sociedade Não Valida Sua Dor


Luto Perinatal
Luto Perinatal

O luto perinatal é uma dor invisível e complexa e para desmistificar essa experiência, escrevi uma série de artigos abordando temas como o luto não reconhecido, a forma como o cérebro processa a perda gestacional e neonatal, e como a Teoria Dual do Luto e a Terapia EMDR podem oferecer apoio, para você validar sua dor e iniciar um processo de cura.


A perda de um filho durante a gestação ou logo após o nascimento é uma das experiências humanas mais dilacerantes. O luto perinatal, termo que abrange a perda gestacional e a morte neonatal, é uma jornada de dor intensa e muitas vezes solitária, que a sociedade nem sempre está preparada para compreender ou apoiar.



O Que é o Luto Não Reconhecido?

O luto não reconhecido é um conceito desenvolvido pelo psicólogo Kenneth Doka que descreve perdas que não são socialmente validadas, reconhecidas ou apoiadas. São mortes que a sociedade considera "menores" ou que não merecem o mesmo nível de compaixão e suporte oferecido a outras perdas.


Por Que o Luto Perinatal é Tão Frequentemente Não Reconhecido?

O luto perinatal é um dos exemplos mais claros e dolorosos de luto desautorizado, e isso ocorre por uma série de fatores interligados:


1. A Invisibilidade da Perda:

Especialmente nas perdas gestacionais precoces (primeiros meses ou semanas), não há um corpo visível, fotos para mostrar, ou memórias concretas para compartilhar.

Essa falta de evidência física leva muitos a minimizarem a perda. Frases como "Pelo menos você não chegou a conhecer o bebê", "Foi apenas um aborto espontâneo" ou "Você nem estava mostrando ainda" são comuns e profundamente invalidantes. A ausência de um corpo ou de um funeral formal dificulta o reconhecimento social da magnitude da perda, deixando os pais em um vácuo de compreensão.


2. Desconhecimento Profundo sobre o Vínculo Pré-Natal:

A sociedade ainda não compreende completamente que o vínculo materno-fetal e paterno-fetal se desenvolve desde o momento da concepção.

Para os pais, o bebê é uma realidade desde o momento da concepção. Ele já é amado, desejado, e os sonhos e planos para o futuro com ele já foram tecidos, independentemente da idade gestacional. A perda não é apenas a de um feto, mas a de um filho, a de uma identidade parental em formação, e a de um futuro inteiro que foi abruptamente interrompido.


3. O Desconforto Social com a Morte (e a Morte Infantil):

Nossa cultura tem uma dificuldade em lidar com a morte, e essa dificuldade é acentuada quando a morte envolve crianças e bebês. Isso se manifesta de diversas formas:

A evitação do assunto, como se não falar sobre a perda pudesse fazê-la desaparecer.

Tentativas de "consolar" com frases inadequadas que mais ferem do que acolhem.

Uma pressão velada para "seguir em frente" rapidamente, como se o luto tivesse um prazo de validade.


4. A Ausência de Rituais Sociais Adequados:

Diferentemente de outras perdas, o luto perinatal raramente é acompanhado por rituais sociais que ajudam a processar a dor e a formalizar a despedida.

Não há velórios ou cerimônias na maioria dos casos.

A licença-luto adequada, embora tenha visto avanços legislativos importantes no Brasil, como a recente promulgação da LEI Nº 15.139, DE 23 DE MAIO DE 2025, que busca reconhecer e dar suporte ao luto perinatal, ainda pode ser percebida como insuficiente ou de difícil aplicação em diversas situações. A realidade é que, muitas vezes, os pais se veem forçados a retornar à rotina antes de terem tido o tempo necessário para processar a dor, refletindo a complexidade e a contínua necessidade de reconhecimento e adequação legal e social para o luto perinatal.

O reconhecimento formal da perda e o apoio comunitário organizado são frequentemente escassos, exacerbando o sentimento de isolamento.


Encerrar um ciclo de dor exige coragem — e reconhecer o próprio luto é o primeiro passo desse caminho. Esta série de artigos é um convite para que você valide sua experiência, encontre apoio e descubra, pouco a pouco, que a cura é possível.


No próximo artigo, vamos mergulhar em um tema profundo e necessário:

“As Profundas Cicatrizes: O Impacto do Luto Não Reconhecido.”


Falaremos sobre como o sofrimento silenciado se manifesta e quais estratégias terapêuticas podem ajudar a aliviar esse peso e abrir espaço para o recomeço.


Psicóloga Anacélia Mateucci

CRP 06/37688-8

Psicologia Perinatal

Psicoterapia EMDR Licenciada TraumaClinic

Psicoterapeuta Certificada EMDR pela AIBAPT

 
 
 

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