Estou grávida e não estou feliz
- anacelia67
- 7 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 3 dias
Como lidar com sentimentos negativos durante a gestação

A gravidez é muitas vezes cercada de expectativas de felicidade. "Parabéns!", "Que bênção!", "Você deve estar radiante!" — essas são as reações que escutamos assim que a notícia se espalha. Mas... e se você não estiver se sentindo assim?
E se, ao ver o teste positivo, o que vier for uma onda de ansiedade, preocupação ou até tristeza? Se esse é o seu caso, respire fundo: você não está sozinha. E não há nada de errado com você.
Sentimentos negativos na gravidez são mais comuns do que se imagina
Muitas mulheres vivem momentos de tristeza ou até depressão durante a gestação — mas poucas falam sobre isso. Estudos apontam que entre 15% e 20% das gestantes apresentam sintomas significativos de depressão. Se incluirmos a ansiedade e outros transtornos emocionais, esse número pode chegar a 25%.
Em pesquisas anônimas, quase metade das mulheres relata ter vivido emoções negativas intensas durante a gravidez. E ainda assim, o silêncio persiste, muitas vezes por medo de julgamento ou por culpa de não sentir o que “esperam” que sintamos.
Por que nem toda mulher se sente feliz na gestação?
Existem muitas razões legítimas — e humanas — para que a alegria não seja o sentimento dominante na gravidez:
· Uma gravidez não planejada, que vem acompanhada de medo ou choque;
· Um momento da vida marcado por incertezas: problemas financeiros, de saúde ou no relacionamento;
· Falta de apoio emocional do parceiro ou da família;
· Preocupações com o impacto da maternidade na carreira;
· Histórias de perdas anteriores ou partos traumáticos;
· Condições de saúde mental, como ansiedade ou depressão;
· Gravidez de alto risco ou complicações médicas;
· O medo de perder a própria identidade ao se tornar mãe.
É essencial entender: não estar feliz com a gravidez não significa rejeitar o bebê. Esses sentimentos refletem o contexto, os desafios e as emoções reais do momento — e eles passam.
Hormônios e emoções: uma montanha-russa natural
Durante a gestação, o corpo passa por uma verdadeira revolução hormonal. Os níveis elevados de estrogênio e progesterona mexem diretamente com neurotransmissores que regulam o humor, como a serotonina e a dopamina.
Além disso, sintomas físicos como náuseas, cansaço extremo, dores e insônia também influenciam o estado emocional. Ninguém se sente bem emocionalmente quando está esgotada fisicamente. É tudo parte do mesmo processo.
Quando é hora de buscar ajuda?
Alguns sinais indicam que o apoio profissional é necessário:
· Tristeza persistente por mais de duas semanas;
· Ansiedade constante ou crises de pânico;
· Mudanças intensas no sono ou apetite;
· Falta de interesse nas atividades do dia a dia;
· Isolamento social ou dificuldade em falar sobre a gravidez;
· Pensamentos de arrependimento em relação à gestação;
· Dificuldade de concentração ou tomada de decisões.
Se você se identificou com esses sinais, saiba que existe tratamento seguro e acolhedor durante a gravidez — e ele pode fazer toda a diferença.
O que pode acontecer se a depressão não for tratada?
Quando sentimentos negativos são ignorados, o risco de complicações aumenta. A saúde emocional da gestante impacta diretamente sua saúde física e, também, o desenvolvimento do bebê.
Entre os riscos para a mãe:
· Pré-eclâmpsia
· Parto prematuro
· Depressão pós-parto
· Dificuldades na amamentação
· Desafios no vínculo com o bebê
Para o bebê, o estresse materno persistente pode afetar o desenvolvimento, pois o hormônio cortisol atravessa a placenta. Mas a boa notícia é: com suporte emocional, esses riscos podem ser significativamente reduzidos.
E a culpa por não estar feliz?
A culpa costuma vir sorrateira, como se você estivesse “falhando” em viver um momento que deveria ser mágico. Mas a verdade é que cada gestação é única — e não existe uma forma certa de se sentir.
Algumas formas de lidar com essa culpa:
· Lembrar que sentimentos ambivalentes são comuns na gestação;
· Tratar-se com carinho e compaixão, como faria com uma amiga;
· Separar o que você sente do que você faz — é possível estar confusa e ainda assim cuidar do seu bebê com amor;
· Conversar com pessoas que acolhem, escutam e não julgam.
O vínculo com o bebê está em risco?
Essa é uma preocupação comum — mas a ciência é clara: sentimentos negativos durante a gestação não determinam a qualidade do vínculo com o bebê.
O vínculo materno não é algo que precisa acontecer imediatamente. Ele se constrói aos poucos, dia após dia, no seu tempo. Muitas mães só sentem esse amor crescer quando olham para o bebê pela primeira vez — ou mesmo semanas depois.
Onde buscar ajuda
Se os sentimentos negativos têm sido frequentes e difíceis de lidar, procure apoio. Há profissionais preparados para caminhar com você:
· Psicólogas especializadas em saúde materna;
· Psiquiatras perinatais, que avaliam tratamentos seguros;
· Obstetras que podem orientar e encaminhar para apoio emocional;
Grupos de apoio para gestantes também são espaços valiosos para trocar experiências com outras mulheres que sentem o mesmo.
Pequenas atitudes que fazem diferença
Algumas práticas no dia a dia podem ajudar no equilíbrio emocional:
· Exercícios de mindfulness voltados para gestantes
· Atividades físicas leves (com liberação médica)
· Técnicas de respiração e relaxamento
· Escrever sobre o que sente
· Criar uma rotina de autocuidado
Uma mensagem para você, que está passando por isso
Se você está grávida e não se sente feliz, por favor, saiba: você não está sozinha. Você não é menos mãe por sentir medo, angústia ou tristeza. Você está vivendo uma experiência complexa, intensa — e profundamente humana.
Se permita sentir. Se permita buscar ajuda. Se permita viver sua maternidade de forma autêntica, com apoio e acolhimento.
Sua saúde mental importa. E você merece se sentir cuidada em todas as fases dessa jornada.
Se você está enfrentando dificuldades emocionais durante a gravidez, busque ajuda especializada em saúde mental materna.
Psicóloga Anacélia Mateucci
CRP 06/37688-8
Psicologia Perinatal
Psicoterapia EMDR Licenciada TraumaClinic
Psicoterapeuta Certificada EMDR pela AIBAPT
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